



Julia é um espetáculo carioca que teve orçamento de 400 mil reais em sua produção primorosa e apresenta em sua concepção a possibilidade de compartilhá-lo em cinco tipos de linguagens diferentes, que transgridem suas áreas e mesclam os campos da comunicação, arte, produção e literatura.
Durante quase todos os 70 minutos de cena, estamos expostos a ingressar em cinco meios: o da fotografia gravada, a fotografia ao vivo, a cena teatral, o set de produção e a dramaturgia em si (fora outras possibilidades que podem ser escancaradas).
A fotografia gravada é o cinema propriamente dito. Durante o todo o espetáculo são projetados vídeos com produção de mais alta qualidade. Os atores contracenam dramaturgicamente com os vídeos, os utilizando como sequência de suas cenas. Com ele somos convidados a fugir literalmente do ambiente teatral e mergulharmos em uma sensação que apenas o cinema nos concede. A história é contada por um mediador: a câmera.
A fotografia ao vivo é a filmagem da cena que se desenrola no palco projetada para os telões que integram o cenário. Na medida que as cenas se desenrolam, um câmera-man capta as imagens que são transmitidas simultâneamente para os projetores. O resultado é uma experiência encantadora, pois o público acompanha o olhar do mediador, suas dificuldades e suas escolhas. É lógico que grande parte já é marcado e ensaiado, mas a sensação do prática imediata, do fazer "ao vivo" nos é concedida e inquieta os apaixonados pela arte do cinema.
Como é um espetáculo de teatro, o acontecimento precisa ocorrer, e ele é o fator mais importante da produção. Sem a cena, não há o espetáculo, e quando ela some, o campo do cinema domina o ambiente. E também no campo da cena, somos convidados a assistir diferentes tipos e métodos de construção artística. Por momentos o melodrama se implanta, outros se coloca ações brechtinianas, e a triangulação ora é para o público, ora é para a câmera.
Nas transições de cena, a sensação é que se reproduz um set de filmagem. É o quarto campo oferecido, o da reprodução do ambiente em que se produz audiovisuais, suas locações, cenários, iluminação, a voz do diretor do filme. Mais um presente para os amantes do cinema.
Por fim, temos o plano dramaturgico em si, que várias vezes durante a peça se impõe. Palavras são ditas e uma história trágica é contada.
Julia tem mais duas apresentações no Em cena, hoje e amanhã, às 20h no Renascença. Vale a pena para todos que gostam de espetáculos com projeção e para o público ávido por experiências e intersecções com recursos tecnológicos.
FICHA TÉCNICA:
Direção:
Chistiane Jatahy / Texto: August Strindberg / Adaptação: Christiane
Jatahy / Elenco: Julia Bernat, Rodrigo dos Santos e Tatiana Tiburcio
(participação especial no filme) / Direção de arte e cenário: Marcelo
Lipiani / Iluminação: Renato Machado / Trilha Sonora: Rodrigo Marçal /
Figurinos: Angele Fróes / Direção de Fotografia: David Pacheco / Direção
de Produção: Claudia Marques / Duração: 70 minutos / Recomendação
Etária: 18 anos
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