terça-feira, 25 de setembro de 2012

OS VENCEDORES DO PRÊMIO BRASKEM 2012

OS PREMIADOS:

- Melhor Espetáculo Juri Popular
Incidente em Antares (Grupo Cerco)


- Melhor Atriz
Martina Fröhlich (Incidente em Antares - Grupo Cerco)


- Melhor Ator
Roberto Oliveira (Um verdadeiro Cowboy - Depósito de Teatro)


- Melhor Direção
Inês Marocco (Incidente em Antares - Grupo Cerco)


Melhor Espetáculo Júri Oficial
Breves Entrevistas com Homens Hediondos (Teatro Sarcáustico)







segunda-feira, 24 de setembro de 2012

BREVES ENTREVISTAS COM HOMENS HEDIONDOS



Breves Entrevistas com Homens Hediondos representou muito mais para o Teatro Sarcáustico do que a realização do Prêmio de Ocupação do Teatro de Arena em 2011 e todas as temporadas de sucesso do espetáculo. Representou a consolidação de um novo formato de trabalho do grupo, que privilegia o desenvolvimento de uma linguagem autoral de seus integrantes e uma formação de uma identidade coletiva, sempre pronta para se reformular.

Encontrei Daniel Colin em um café na Rua da República, na Cidade Baixa. Não é muito fácil encontrar Daniel com tempo livre, ou qualquer um dos demais três integrantes do grupo (Rossendo Rodrigues, Ricardo Zigomático e Guadalupe Casal). Todos estão envolvidos permanentemente com o teatro, e os quatro desenvolvem trabalhos paralelos aos da companhia. Ricardo chegou vinte minutos depois, vindo de uma aula no DAD.

A nova formatação do Sarcáustico se tornou uma realidade após o multipremiado espetáculo Wonderland encerrar suas seções. Com a saída definitiva do diretor e dramaturgo Felipe de Galisteo do grupo (radicado em São Paulo), e de outros integrantes, todo o andamento naturalmente passaria a ser centralizado na figura de Daniel Colin. Mas o grupo parece ter compreendido, de alguma forma, que a única maneira de que ele poderia permanecer verdadeiramente vivo seria buscar identidade coletiva em seus trabalhos e projetos.

Assim, Breves Entrevistas com Homens Hediondos é um trabalho levado a oito mãos, onde todo o elenco atua e dirige. O modelo de dramaturgia adotado favorecia a opção, uma vez que a peça é conduzida por pequenos monólogos. Durante o espetáculo, o público escolhe as cenas que deseja ver, aumentando o grau de risco da execução, outra marca do grupo. Para a peça não virar um Frankstein (como diz Zigomático), Daniel assumiu a direção geral. Dessa forma, o grupo havia encontrado uma maneira o mas equilibrada possível onde todos os integrantes desenvolvessem seus interesses artísticos, mantendo a unidade e a assinatura do Sarcáustico.

A dramaturgia de Breves Entrevistas é um grande presente para os fãs da literatura de David Foster Wallace, romancista e ensaista norte-americano, morto em 2010. Sua visão bruta e sórdida sobre o comportamento humano e seu estilo de escrita que encadeia rapidamente diferentes pensamentos de maneira irônica influencia boa parte da geração contemporânea de escritores. Foster Wallace sofria de depressão e teria se suicidado.

Perguntados sobre o futuro do estilo e da identidade do Sarcáustico, Daniel responde: "o estilo é meu, que impus como diretor, e agora os guris estão desconstruindo. Mas não me preocupo com isso. Eu acho que o diretor tem importância dentro do conceito e a estética do trabalho, mas todo mundo quer dirigir, quer escrever, é necessário, e o espaço para fazer isso é dentro do grupo."

Ricardo complementa: "eu estava numa aula sobre identidade, e estávamos conversando sobre a construção da identidade, e é incrível como a gente usa ela para se manter confortável, mas depois que fixada, o desejo é mudar. Esse é o momento do Sarcáustico, nós achamos a cara do grupo, que é a nossa somada com a do Daniel, mas agora é construir um trabalho autoral de uma forma coletiva."

Breves Entrevistas com Homens Hediondos concorre essa noite ao Prêmio Braskem 2012.


Ficha técnica:
Direção, dramaturgia e atuação: Daniel Colin, Guadalupe Casal, Ricardo Zigomático e Rossendo Rodrigues / Atriz especialmente convidada: Tatiana Mielczarski / Cenário: Eder Ramos e Ricardo Zigomático / Figurinos: Daniel Lion / Iluminação: Carol Zimmer / Operação de luz: Maíra Prates / Coordenação de trilha sonora: Rafael Lopo / Trilha sonora pesquisada: Rafael Lopo, Daniel Colin e Ricardo Zigomático / Direção, edição e operação dos vídeos: Thais Fernandes / Vídeo especialmente utilizado: Excertos do filme “O Lamento da Imperatriz” (“Die Klage der Kaiserin”, 1990), de Pina Bausch / Design gráfico: Pedro Gutierres / Cabelos e maquiagem: Márcia Pazzini / Fotografias: Marina Fujiname / Produção internacional: Simone Buttelli / Coordenação de produção e Divulgação: Daniel Colin /Realização e Produção geral: Teatro Sarcáustico.

sábado, 22 de setembro de 2012

ECLIPSE



Inês Peixoto fala com uma voz mansa e delicada como só os mineiros têm. Enquanto degusta uma taça de vinho Cabernet, e aguardando sua janta, penne ao  molho de rúcula com camarões, ela comenta: "havia um conto que eu realmente era apaixonada, significava muito para mim. Era um texto que me emocionava muito toda vez que eu lia ou usava nos ensaios, e eu queria muito que ele estivesse em cena. Mas ele (Jurij Alschitz) não quis. Foi uma dor muito grande ter que se desapegar de um texto de Tchékhov que me tocava tanto. Esse foi um desafio para nós, que sempre fomos um grupo 'barroco'. Entender que o que ele queria era a filosofia."




O projeto Viagem a Tchékhov teve início em 2010 e gerou dois espetáculos diferentes a partir da obra do escritor russo: Tio Vânia (que já esteve em cartaz em Porto Alegre) e, agora, Eclipse. O numeroso grupo Galpão dividiu seu elenco nesses dois projetos. Como já é praxe, contrataram diretores de trajetórias diferentes. O desafio tem sido uma marca nos últimos anos.

Em Tio Vânia, Yara de Novaes já propunha uma linguagem diferente que a que o público estava acostumado em ver da companhia mineira. Agora, em Eclipse, o diretor (e também dramaturgo, cenógrafo, figurinista e treinador) Jurij Alschitz causa um grande choque: palco branco, nenhuma música, nenhum efeito. Em tudo se sugere um não-tempo, um não lugar. Uma pausa no intervalo dos segundos corridos para se extrair o que há de mais racional e filosófico em uma seleta de contos de Tchékhov. Seria o mesmo grupo que encantou recentemente Porto alegre transformando a Usina do Gasômetro em uma aldeia medieval com o espetáculo Till?


Eu pergunto: como nascem os projetos dentro do Galpão? Júlio Maciel (integrante mais jovem, diretor de Till), que parecia completamente distraído e alheio a tudo que se passava ao seu redor, do outro lado da mesa, batalhando para vencer todos os camarões do seu prato, responde: "os projetos nascem daquilo que identificamos que estamos precisando. Identificamos as carências e buscamos nos novos projetos dominar aquilo que nos falta.". Inês complementa: "todas as decisões são em reuniões coletivas, discutidas a portas fechadas."

Eclipse foi montado ao longo de seis meses, com a participação direta do diretor russo em três. Alschitz vinha a cada dois meses ao Brasil e ficava durante trinta dias. Durante sua estadia, o elenco sofria. Cortes e mais cortes de material levantado. O russo parecia querer extrair toda a poesia que os atores poderiam enxergar na obra pesquisada. Alschitz queria o essencial, o questionamento da vida e do futuro que construímos que só a palavra de Tchékhov consegue alcançar. Para o diretor russo, se Tchékhov tivesse conseguido prosseguir com sua obra, o encontro estaria no teatro de Brecht. Talvez por isso uma montagem tão distante de toda a emoção que o público estaria disposto a alcançar.



Eclipse tem sua última seção no 19° Poa em Cena nessa sábado às 21h no Theatro São Pedro. Vale a pena conferir. E o próximo desafio do Grupo Galpão já tem nome: Pirandello. E o próximo diretor, que trará dúvidas sobre o que já é dominado, será Gabriel Villela. "Ele quer exatamente mergulhar na explosão do melodrama" diz Inês. Em 2013, mais uma faceta dos trinta anos do Galpão vem aí. E que venham mais trinta para também nos desafiar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CARA A TAPA





O terceiro espetáculo da Vai! Cia de Teatro nasceu na praia. Talvez, estavam João, Vini, Taidje e Laura sentados em uma duna, tomando picolé. Lançando idéias de como se formataria o terceiro espetáculo da companhia, fundada em 2008, surge a grande ideia de transformar o palco dos teatros em em um autêntico balneário sulino.

Mas como, com um texto que em nada apontaria que os acontecimentos se sucedessem no litoral? A Vai escolheu, entre dez opções, a dramaturgia de Tarcísio Lara Puiati, na edição 2011 do prêmio Carlos Carvalho de Auxílio-Montagem. Um casal em crise, expondo seus conflitos e cicatrizes. Se tivesse escolhido qualquer outra das opções, em nada adiantaria; nenhum texto serviria, na primeira ótica, para a proposta estética do projeto. Foi então que o grupo envolvido no projeto fez uma verdadeira imersão na estética e na linguagem do espaço que convencionalmente chamamos de "praia".

Nesse sentido, o elenco formado por Cassiano Ranzolin, Frederico Vasques, Laura Leão, Patrícia Soso, Sofia Ferreira e Vinícius Meneguzzi descobriu principalmente no jogo e na pesquisa corporal um universo de signos que compõem o ambiente cênico do espetáculo. Surf, frescobol, futebol, mergulho, banho de sol, areia. A dramaturgia corre paralela, mas em determinado ponto há uma apropriação do espaço e da linguagem sobre a palavra, e o que é encenado ilustra de maneira inusitada aquilo que pode ser sugerido pelos diálogos.

O segundo desdobramento que a Cia propôs sobre a obra foi uma análise psicológica sobre as personagens. Ego, alter-ego, ID... Dessa forma, as ações e acontecimentos narrados ampliam as possibilidades estéticas sobre sua compreensão, uma vez que são apresentados não apenas os indivíduos, mas as extensões das duas personalidades em conflito.

Antes da estréia, em julho de 2011, a equipe do espetáculo fez ainda mais duas excursões para o litoral gaúcho. Como todos nós sabemos, ir paras as praias do RS em março, abril, até que dá para encarar. O vento já é bem gelado, mas o solzinho ainda esquenta. A primeira excursão do elenco foi assim: na própria praia foram buscados as composições que poderiam formatar as cenas. A segunda excursão foi mais penosa: pleno junho, o dia mais frio do ano, momento em que o litoral gaúcho se torna inóspito para a vida humana. A equipe técnica assistia, toda encasacada, o elenco de roupinha de praia, batendo as fotos, gravando o teaser e ensaiando a peça completa em plena areia, sobre um frio de 7°C.


Com certeza a praia que está em Cara a Tapa tem a cara da praia do grupo. E o olhar específico da Vai! sobre este universo, confrontado com um texto que a companhia faz questão de explorar além de seu desfecho, resulta em um espetáculo incrivelmente divertido e repleto de sensações. É um dos espetáculos gaúchos que concorre ao Prêmio Braskem 2012.

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Direção: João Pedro Madureira
Concepção: João Pedro Madureira, Vinícius Meneguzzi e Taidje Gut
Dramaturgia: Tarcisio Puiati
Elenco: Cassiano Ranzolin, Frederico Vasques, Laura Leão, Patrícia Soso, Sofia Ferreira e Vinícius Meneguzzi
Coordenação de Produção: Laura Leão
Produtor Executivo: Patrícia Machado
Cenário: Leonardo Fanzelau
Figurino: Carmela Moraes
Iluminação: Gilberto Fonseca
Arte gráfica: Didi jucá

terça-feira, 18 de setembro de 2012

PREFIRIRIA NÃO?

"I would prefer not to."






 É com essa frase que Herman Melville (1819 - 1891) coloca em cheque a obediência e o ideal de progresso e cria um herói da resistência passiva em Bartleby, o Escriturário, conto de 1853, publicado na Putman's Magazine anonimamente. É a saga de um funcionário que um dia responde, após a ordem do patrão, com a frase "preferiria não". Um texto rápido, que pode ser lido de diferentes formas, e que apresenta um final trágico diante a postura de sua personagem.

Considerado por muitos anos uma obra secundária na trajetória de Melville, conhecido por Moby Dick, o conto ganhou real notoriedade após Jorge Luis Borges considerá-lo como uma das obras mais importantes da humanidade. Pelas idéias do texto, poderíamos dizer que diversos autores do século XX beberam deste mesmo impulso: de Bukowski a Beckett, passando por Franz Kafka. 

Denise Stoklos bebe da mesma água em seu monólogo "Prefiriria Não?". Se enlaça em todo o viés político da obra de Melville e descorre 1h45 minutos de uma performance com a assinatura de uma artista que ainda resiste, mesmo que passivamente, às dificuldades de realizar seu trabalho (ou sua obra).

Bartleby é a trajetória de todo o trabalhador que decide não seguir sua natural condição de obedecer. É uma figura literária que consegue com maestria estar, ao mesmo tempo, dentro e fora do sistema que participa, integra e ao mesmo tempo critica, uma vez que sua resistência gera um conflito incapaz de ser solucionado.

É uma leitura que pode ser ampliada a toda a classe trabalhadora, levada a se questionar até onde possui efetiva autonomia sobre suas ações dentro de um espaço de trabalho. Mas se deslocarmos, ainda, esta mesma leitura, aplicando-a sobre o âmbito da condição dos artistas dentro do sistema de produção cultural, veremos que o espetáculo de Denise é um duro retrato sobre uma realidade em que profissionais sobrevivem a esparsas migalhas.

Na noite em que vi Denise e seu espetáculo, estavam na platéia espectadores ilustres: o governador do estado Tarso Genro, em companhia da primeira-dama. Poderia ser uma armadilha para Denise. Talvez fosse a hora de recolher um pouco a artilharia, afinal estava ali o prefeito responsável pelo surgimento do Festival Porto Alegre em Cena. 

Mas o que se viu foram verdades que soavam como incoveniências para qualquer representante da ordem pública e do estado como agente fomentador da cultura. Incoveniências para qualquer representante de uma aristocracia política que segue se ocultando diante os problemas que assolam essa mesma classe operária, que, ao contrário de Bartleby, seguem aceitando, e suportando, todas explorações que as brechas legais permitem em nossa social democracia.

São artistas como Denise Stoklos que deveríamos nos inspirar, para além de toda idolatria, preconceito ou não-gosto. Artistas que assumem seu papel e arriscam, diante de uma platéia burguesa, a revelar, através da arte, todas as fissuras do comportamento humano contemporâneo.

FUERZA BRUTA





Fuerza Bruta estará em nossa cidade até dia 22 em Porto Alegre e tem como atração um grande espetáculo de som, luz e efeitos especiais.  Não se pode dizer que é propriamente uma peça de teatro; talvez um acontecimento teatral onde técnicas cênicas apoiadas por grandes recursos se misturam e oferecem aos espectadores um punhado de sensações.

 Difícil traçar qualquer paralelo a respeito desse evento, principalmente pelo fato de possuir investimentos superiores a milhões de dolares. Nasce da fusão da energia das raves com a fúria das artes, e propõe, em pouco mais de uma hora, uma série de sequências que mais sugerem um filme de ação, daqueles em que a câmera se move muito mas o espectador não entende o que acontece.

O público de Porto Alegre, na primeira noite de apresentação, pulou, dançou e saiu bastante feliz por ter em sua cidade um entretenimento nova iorquino. A impressão que dá é que qualquer coisa que possuíse um punhado de dinheiro e que fosse de lá, estaria fazendo muito sucesso aqui. Um verdadeiro achado dos publicitários em um mercado que ainda é carente de exploração, o da cultura no "terceiro mundo".

Virtudes e fantasias à parte, é bom que os espectadores gaúchos impressionados com que viram saibam que muito do que é posto em cena em Fuerza Bruta é feito com belíssima qualidade em nossa cidade. O uso aparelhos de Rapel, por exemplo, com atores suspensos, já é, há muito tempo, explorado pelo grupo Falus & Stercus em seus trabalhos.
O ilusionismo utilizado em muitos momentos com o uso de cenários e efeitos de iluminação são uma assinatura do grupo Caixa de Elefante, vencedor do último prêmio Braskem com o "A Tecelã"(espetáculo que em 2013 viajará para a europa representar o RS nos grandes festivais). 

O uso de uma piscina com água e efeitos de luz também já foram usados em Porto Alegre por diferentes grupos. A última experiência foi com o GRUPOJOGO, com o seu experimento MedeaMaterial.

 
Para quem ainda ama o circo e todas suas vertentes contemporâneas, Fuerza Bruta pode ser considerado um espetáculo circense, pois no ponto de vista da recepção, a maneira como se estabelecem as relações palco x platéia e a quase nenhuma ligação entre as cenas nos leva à sensação de que esperamos o próximo número, seja da onde ele venha, de cima, por baixo ou pelos lados. Até o clima de espera para o acerto técnico dos elementos que compõem a cena nos é oferecido, algo semelhante como desenozar toda a corda do trapezista ou fechar bem o globo da morte.

Talvez o grande mérito de Fuerza Bruta é reunir todos esses elementos em um único espetáculo, tudo regado com som e fúria, muita luz, muito efeito, muito dinheiro. Mais um modelo de circo-novo. A cara de uma festa, que não acontece. Dá vontade de ir ver de novo, mas só para tentar achar o que pode dar certo e errado. Não é inspirador, mas é empolgante. Não conquista, não embala, mas anima e é para se divertir. 

Detalhe: a ficha técnica do espetáculo quer circula o mundo não divulga o elenco. Isso significa que o ator é o que menos importa aqui.
    



FICHA TÉCNICA:


Direção artística: Diqui James / Direção Técnica: Alejandro García / Produção: Diego Weinschelbaum / Produção Executiva: Analia Turuzzi e Liz Hood / Elenco: flutuante / Duração: 60min / Recomendação Etária: 16 anos

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O CASAMENTO DO GRANDE MÁGICO MAYCON ESTALLONE e O FANTÁSTICO CIRCO-TEATRO DE UM HOMEM SÓ

Muitos costumam deliberar que o teatro brasileiro teve seu real início no começo do século XX, com o surgimento dos primeiros grandes dramaturgos tupiniquins. Pode ser uma verdade para a instituição teatral como é compreendida; todavia, muitos desconsideram que no início do império e até mesmo no período colonial, nosso país teve uma rica tradição artística que trazia a técnica teatral em seu repertório, além de abranger diversas artes. Estamos falando do circo.

Sim, o circo no Brasil tem sua origem há muito tempo, segundo o professor Zé Carlos de Andrade, em sua tese de mestrado em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, ciganos de diversas nacionalidades já circulavam por aqui fazendo suas pantomimas, números musicais e encenações. No século XIX, famílias já tradicionais do cenário circense europeu também migraram em busca de novos públicos e se disseminaram por todo o país.





Segundo a matéria de Geraldo Hasse para o Sul21 (http://sul21.com.br/jornal/2012/01/primo-pobre-das-artes-o-circo-respira/), poucos de nós sabemos que em Porto Alegre o espaço que hoje chamamos de Praça XV foi terreno para o Circo Universal, circo fixo montado em madeira, que teve apresentações periódicas por três anos antes de ser destruído pela Prefeitura.

Para os amantes do teatro contemporâneo e seu experimentalismo, é bastante instigante descobrir que em meados de 1900, no RJ, o Circo Emílio Fernandes montou uma peça em que o Teatro São Pedro de Alcântara (atual João Caetano) era completamente inundado e que os atores representavam embaixo d’água e sobre pontes construídas especialmente para o espetáculo, conforme a professora Erminia Silva, autora do livro"Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil".

Se os dias atuais não tem sido animadores para o fortalecimento da indústria circense, obrigando os artistas a se adaptarem ao "circo novo" e suas exigências mercadológicas, a alma do artista circense continua intacta. A pureza de seu talento e a alegria que sempre contagiou as platéias, independente das circunstâncias, evoca os princípios mais nobres do ofício artístico. Para o circense, parece não haver situação ruim: dois já é público, dez é multidão. E a satisfação das platéias é tão plena que é como se realmente, houvesse estado ali, uma multidão.

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O 19° Poa em Cena nos presenteia com dois espetáculos gaúchos que se fundamentam no universo do circo em suas concepções, falando, principalmente, sobre a alma dos artistas. Ambos tem produções muito cuidadosas, com detalhes bem resolvidos em todos os elementos visuais. Concorrem ao Prêmio Braskem 2012.


O Casamento do Grandre Mágico Maycon Estallone parece se utilizar de uma história, quase um folclore, e investe em uma imersão pelo interior das antigas lonas dos pequenos circos que percorriam os quatro cantos dos continentes. Famílias de artistas não tão bons, com números piores ainda, mas dedicados ao seu único ofício - talvez por que não serviam para mais nada. A dramaturgia se apropria daquilo que não pode ser bem executado e o resultado é o envolvimento imediato da platéia com o objetivo do enredo.

Os arquétipos típicos do ambiente circense são amplamente utilizados, e os cenários e figurinos nos convidam a ingressar em outro ambiente, algo, deveras, remoto em nossas lembranças. Todos os atores tocam instrumentos, bem ou mal (sempre propositadamente). Faz parte da brincadeira explorar o que não dá certo.
 
A realização do Circo Girassol tira proveito daquilo que é mais singelo e puro dos picadeiros para construir uma produção focada em quem tem a alma do circo na sua essência e se emociona vendo pessoas unidas nos antigos clãs, preservando um conhecimento milenar de nossa humanidade.

Ficha Técnica:
Elenco: Tuta Camargo, Hálida Maria, Débora Rodrigues, Dilmar Messias, Diego Steffani, Álvaro RosaCosta, Andréa Farias, Vinicius Petry, Mariana Velhinho, Jéferson Rachewski / Trilha sonora: Arthur de Faria / Preparação musical: Simone Rasslan / Professores: Alex Prinz Anjinho (trompete, trombone, tuba, bombardino), Fabio Stone (clarinete, sax), Josemir Valverde (violoncelo) / Figurino: Daniel Lion / Cenário: Felipe Helfer / Iluminação: Fernando Ochôa / Adereços: Diego Steffani / Planejamento gráfico: Frederico Messias / Ilustração: Fábio Zimbres / Produção: Circo Teatro Girassol / Duração: 75min / Recomendação etária: Livre  
 

Se O Casamento de Maycon embarca em um universo coletivo, O Fantástico Circo-Teatro de um Homem Só, como o próprio nome diz, fala de um artista só. Mas que pode ser vários, a hora que quiser, e por isso representa todos.  Todos aqueles que conhecem e respeitam suas origens dentro de suas trajetórias.

O espetáculo mescla a biografia do multiartista Heinz Limaverde com elementos ficcionais, ao melhor estilo "Big Fish". Heinz surgiu do universo circense, e o espetáculo explora esse ambiente em diversos signos, transformando o palco em um pequeno circo-teatro.

A obra dá prosseguimento à pesquisa da Cia. Rústica que investe na temática do "show" na construção de sua linguagem e, no campo da dramaturgia, se utiliza relatos pessoais do atores. É pouco mais de uma hora embarcado nas correntes de um mundo que parece não mais existir, feito de fragmentos de memórias individuais ou coletivas.

Delicado e bruto, O Fantástico Circo-Teatro de um Homem Só estará em cartaz no dia 22, mais uma opção local dentro da grade do festival.

Ficha técnica:
Direção: Patricia Fagundes / Iluminação: Lucca Simas / Autor: Heinz Limaverde e Patricia Fagundes / Elenco: Heinz Limaverde / Trilha sonora: Simone Rasslan / Cenografia: Juliano Rossi / Figurinos: Daniel Lion / Adereços, cores da cenografia e programação visual: Paloma Hernandez  / Produção executiva: Priscilla Colombi / Duração: 65 minutos
  

terça-feira, 11 de setembro de 2012





Fuerzabruta - estreia transferida para dia 16, às 18h

A primeira função do espetáculo argentino Fuerzabruta será transferida do dia 15, às 22h, para dia 16, às 18h, em razão do atraso na chegada da carga cenográfica. Não é preciso trocar o ingresso para ter acesso garantido à nova sessão, das 18h.

Todas as demais datas estão mantidas conforme divulgado.
Mais informações: 3235.1120 (telefone do porto alegre em cena) ou 40031212 (ingresso rápido).

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Vuelo a Capistrano



Crítica escrita para Blog Oficial do Festival Porto Alegre em Cena:
http://poaemcena.blogspot.com.br/2012/09/vuelo-capistrano-por-gustavo-susin.html


Todo o ano, no dia 19 de março, San Juan de Capistrano, uma cidade pequena do estado da Califórnia, Estados Unidos, comemora o St. Joseph's Day. Nesse dia, uma grande missa é celebrada na praça central da cidade dando boas vindas as andorinhas migratórias vindas da América do Sul. Essas andorinhas partem dos países do Mercosul e chegam a percorrer 12 mil quilômetros em uma velocidade média de 60km/h atrás de calor e alimentos. Um grande e incrível voo representando a busca pela sobrevivência.


É esse voo que Pablo (Walter Reyno) quer dar, mas já não consegue. Vuelo a Capistrano é um espetáculo uruguaio dirigido pela sempre bem vinda diretora e atriz Patricia Yani, sendo uma obra essenciamente naturalista, em sua concepção e estilo interpretativo. O texto é um melodrama do argentino Carlos Gorostiza, e se passa todo no intervalo de uma tarde, em um único ambiente. Um pintor de idade avançada não consegue, há alguns meses, dar prosseguimento à sua obra ao saber que possui uma doença terminal. Em um diálogo profundo sobre o existencialismo humano, a resistência ao envelhecimento e a espera pela morte, o pintor tenta encontrar meios de prosseguir sua vida sem que essa informação influencie o mínimo seu cotidiano e a vida das pessoas que o cercam.(Detalhe: Carlo Gorostiza tem 92 anos e devido a idade avançada e suas condições de saúde, ainda não pôde ver sua obra encenada, que muitos já dizem ser autobiográfica).

Se for possível traçar um paralelo a respeito da dramaturgia, a obra do escritor argentino lembra os livros do português José Saramago, em especial "Intermitências da Morte", onde o tema da finitude é extremamente explorado. Como lidar com a notícia de que a morte está por vir e já não há mais nada a fazer? Como prosseguir a vida, dia após dia, sem transformar o tempo em um longo martírio?

Pablo (Walter Reyno) já não tem mais forças para prosseguir. Agoniza. E o gorjeio das pombas que rodeiam sua casa representam o grito desesperado de sua sensação de mediocridade. Sua agonia é interrompida por sua mulher atual,  Emilia (María Filippi), que se esforça em valorizar o trabalho do artista e mantê-lo resistente e forte ao enfrentar seu destino, e sua ex-mulher (Maribel García), com qual teve uma filha, a qual já não vê o pai há mais de seis meses. Eis então que surge uma andorinha, machucada, ainda com vida, que reacende a chama criativa do pintor e que o faz retomar sua essência vital: a arte.

A equipe do espetáculo é velha conhecida do Em cena. A encenação é objetiva e eficiente, sem rodeios, justamente como a personalidade da diretora Patricia Yani. Cenário, iluminação, figurino, todos os elementos cênicos estão a serviço de uma estética que visa reforçar a sensação de realidade absoluta. Quanto as atuações, impecáveis: Walter Reyno explora ao máximo o texto e seus desdobramentos, com um contundente trabalho vocal. María Filippi e Maribel Garcia completam o elenco com firmeza e elegância, como as atrizes uruguaias cansam de desfilar nos palcos.

Vuelo a Capistrano é uma bonita homenagem a todos os artistas que mantém vivo o sonho de expressar suas angústias e percepções através de suas vocações e talentos, custe o que custar, sobrepassando por tudoe todos, mesmo que a vida possa estar a um fio, a beira do seu fim. É um trabalho para quem é movido pela arte.


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Em breve no Blog Onda Cênica: entrevista com a diretora Patricia Yosi
 

domingo, 9 de setembro de 2012

Queremos uma Ciclovia



"Eu tenho duas asas redondas" letra de uma das canções do espetáculo.


Queremos uma ciclovia é um show musical dirigido para o público infato-juvenil. Estreiou neste sábado (08) no Festival Porto Alegre em Cena. Um espetáculo engajado, que recupera e valoriza elementos do imaginário infantil, propondo uma educação com novas matizes, que englobam a liberdade e igualdade de direitos para modos alternativos de vida. Tem o intercâmbio de artistas brasileiros e uruguaios, o que expande o valor da obra nos campos artísticos e educacionais. As crianças tem contato com um idioma diferente nas canções, além de viajar no universo de signos infantis com as letras bastante lúdicas.

Em um momento em discutimos socialmente o uso de novos meios de transporte para expandir nossa mobilidade urbana, Queremos uma Ciclovia lembra que a bicicleta faz parte da cultura da maioria das classes sociais, e que reconhecido mundialmente como um excelente veículo para ser utlizado em nossos deslocamentos diários. O espetáculo prepara as gerações futuras para a compreensão de que novas formas de uso dos recursos naturais são necessários e benéficos para nossa sociedade. Um engajamento poético e musical de excelente bom gosto. 

Músicas lindas, com músicos talentosos, mais um belíssimo espetáculo infantil de que enriquece o leque de opções para as crianças e que compôs a grade do Em Cena.  



FICHA TÉCNICA
Criação e Composição: Ana Prada e Queyi / Músicos: Vanessa Longoni (Vocais), Luke Faro (Bateria), Simone Rasslan (Vocais e Piano), Gustavo Ferreira (Baixo) e Marcelo Corsetti (Guitarra) / Produção Musical: Marcelo Corsetti / Duração: 60min / Recomendação Etária: Livre

Nossa Vida não Vale um Chevrolet

Fernanda Petit está na Cidade Baixa, em um bairro de Poa, e entrou em uma loja de cosméticos. Ela faz o check-list: cílios postiços, ok; clareador de pêlos, ok; perfume, não achei; sombra azul, branca e preta (pois Magali é gremista e pq ressalta os olhos), ok; batom vermelho, ok. Chega no Balcão e fala para o atendente: oi! tem esmalte?/ Claro, olha isso!/ Tá mas tem que ser esmalte com cor de puta, por que eu faço uma numa peça!/Sério?/ Não... é... eu faço uma puta num espetáculo...!/ahhh...., sim,........ bom........, temos essa cor,...... Gabriela...

Sim, a vida é funky.

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Junkie. É esse o papel de Rafael Guerra em "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet". De certa forma, não é tão difícil tem a sensação de ser um, mas para se chegar lá de verdade, tem que se destruir de verdade. O negócio é fazer laboratório. Rafa sempre pensa duas vezes: é como seu personagem.

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Cassiano Ranzolin ajuda no figurino de Fernanda Petit. Ele leva para sua colega todas as roupas que as mulheres já esqueceram em sua casa e carro. Brincos, pulseiras, sapatos, jaquetas. As mulheres esquecem as coisas depois de se encontrarem com Cassiano Ranzolin.

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Guiherme Zanela não quer ficar careca. Optou em abrir mão dos cabelos oxigenados e hoje apresenta o mais novo corte de cabelo de seu personagem, Suruba.

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Duda Cardoso está experimentando pelo teatro algo que não pôde na vida. Criado numa família só de mulheres, ele tem a possibilidade de viver no palco com uma família com homens.

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Talvez esse seja um dia especial para Zoé Degani. A cenógrafa vai ver hoje a última apresentação que será realizada no Centro Cenotécnico. O cenário de Nossa Vida não Vale um Chevrolet foi totalmente concebido para o espaço que deverá ser destruído nos próximos meses para as obras da Copa do Mundo. Parte de sua obra precisará se resignificar, pois parte de seu valor será destruído também, junto com o Cenotécnico.

Para Zoé Degani, o Cenotécnico é mais que um espaço cultural, é quase sua casa. Há praticamente vinte anos, ela fez do espaço seu barraco, construindo inúmeros cenários para os mais diferentes eventos e espetáculos do RS. Ela torce que o novo prédio do Cenotécnico, prometido pelo Poder Público, saia efetivamente do papel.

É o que todos nós torcemos, Zoé.

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Esses e outros grandes artistas, com suas lindas histórias, estarão todos reunidos, a partir das 21h, no Centro Cenotécnico, para a apresentação de Nossa Vida Não Vale um Chevrolet. texto de Mario Bortolotto, dirigido por Adriane Mottola. Uma visão romântica e trágica de um submundo onde pessoas sobrevivem à sua maneira, duelando com as ofensas e agressões do destino. É um dos espetáculos que concorre ao Prêmio Braskem 2012.  Foi contemplado com os prêmios Fumproarte (Prefeitura de Porto Alegre) e Prêmio Myriam Muniz.





Ficha técnica:
Texto: Mario Bortolotto / Direção: Adriane Mottola / Produção: Morgana Kretzmann e Viviane Falkembach / Realização: Mek Produções / Elenco: Morgana Kretzmann, Rafael Guerra, Cassiano Ranzolin, Guilherme Zanella, Carlos Azevedo, Fernanda Petit, Plinio Marcos, Eduardo Cardoso / Música tema: Nei Lisboa e Mario Bortolotto / Cenário: Zoé Degani / Trilha Sonora: Marcos Chaves / Operação de Som: Vitorio Azevedo / Operação de Luz: Casemiro Azevedo  / Figurino: Fabrizio Rodrigues / Fotos: Regina Peduzzi / Preparação de Elenco: Sérgio Etchichury

VESTIDO COMO PARECE

A obra de Nelson Rodrigues tem sido muito explorada nos últimos anos no campo da dança. Os mistérios da literatura rodriguiana parece seduzir e inspirar a composição de diversos bailarinos por todo o mundo, em mais uma clara demonstração de que a obra do escritor carioca continua gerando inúmeros desdobramentos. Eis alguns espetáculos de dança que encontra inspiração na obra de Nelson nos últimos anos:


A NOITE DO MEU BEM - SP (2007)
Baseado na obra de Nelson Rodrigues, o espetáculo A NOITE DO MEU BEM, a montagem reuniu os atores Dinah Perry, que assina a criação e concepção do trabalho, e Paulo Goulart Filho, que além de dividir a cena com a atriz, também é responsável pela adaptação do texto.






Sete (1999) - SP
Companhia Paulista de Dança de Ribeirão Preto.
O espetáculo, baseado em sete contos do dramaturgo Nelson Rodrigues, foi coreografado pela americana Patty Brown, dirigido pela bailarina e atriz Renata Celidonio e foi apresentado em nove cidades.



Valsa em Pedaços - Conexões da Contemporaneidade (2012) - SP
Livremente inspirado em "Valsa nº 6", texto que o dramaturgo escreveu para a estreia de sua irmã, Dulce Rodrigues, como atriz, em 1951. Direção e dramaturgia: Ana Guasque. Com Ana Guasque, VJ Dado França e Diogo Del Nero.


 



Teia - RN (2011) Direção de Mauricio Motta. A encenação criada a partir da obra Dorotéia, de Nelson Rodrigues




Valsa N° 30 - PR (2010)

A "Valsa Nº6", escrita por Nelson Rodrigues em 1951, foi a escolhida pela Téssera Companhia de Dança da UFPR para encerrar o calendário comemorativo dos 30 anos do grupo.
Brincando com o nome da peça e o aniversário da Companhia, o grupo criou a "Valsa nº30", peça coreografada por Cristiane Wosniak que mistura dança e teatro.

Téssera Companhia de Dança da UFPR


 O Beijo - Cia Nova Dança 4 (2011) - SP




 A Ânima Cia de Dança, cordenada pela coreógrafa Eva Schul, apresentou neste sábado sua homenagem à obra de Nelson Rodrigues com o espetáculo "Vestido como Parece - a brasilidade em Nelson Rodrigues". É um trabalho que se fundamenta nas próprias tradições e virtudes da cia, explorando sua já conhecida pesquisa estética. É um dos espetáculos que concorrem neste ano ao Prêmio Braskem, e Eduardo Severino, ganhador do prêmio em 2010, está no elenco. Opta por não se fixar em uma obra específica e praticamente não utiliza textos. Um estádio de futebol é o cenário fundamental. Os bailarinos se caracterizam em cena. O público saiu animado da apresentação deste sábado. Material com DNA gaúcho que merece toda a atenção.








sexta-feira, 7 de setembro de 2012

OS PLAGIÁRIOS



 

1942
"O Sr. Nelson Rodrigues deixou-se levar por seus ótimos dons literários. Compôs uma obra de mérito, sem dúvida. Mas não faz teatro."
Crítica a "Mulher sem Pecado", assinada apenas por IINT, no "Diário de Notícias"
1944
"Essa peça não passou de esboço... Constitui ainda mais uma procura de caminho do que uma realização plena."
Crítica a "Vestido de Noiva", de Lopes Gonçalves, no "Correio da Manhã"
1958
"Nelson Rodrigues, que há 15 anos surgiu como autor e parecia ser o renovador da dramaturgia brasileira, orientou-se depois pelo caminho barato que todos sabem, fazendo o pior uso de suas qualidades. (...) 'Os Sete Gatinhos', que se enquadra na linha de suas novas tendências (...) é a pior de todas. Não acreditamos que o autor de 'Vestido de Noiva' escrevesse aquilo a sério. Por isso recusamo-nos também a levá-lo a sério, acrescentando apenas que o espetáculo é tão ruim como o texto e lamentando que o dramaturgo, de quem tanto se esperava para a renovação de nosso teatro, preferisse concorrer dessa maneira para a sua desmoralização."
Crítica a "Os Sete Gatinhos", de Henrique Oscar, no "Diário de Notícias"
1961
"Não estou tentando complicar as coisas. Nelson Rodrigues é complicado por si próprio. Nunca foi entendido por diretores e críticos. Entre os últimos eu me incluo. Só agora começo a enxergar com clareza sua obra. Já escrevi muita besteira sobre ela, pró e contra."
Crítica a "Boca de Ouro", de Paulo Francis, no "Última Hora"
1962
"A nova peça de Nelson Rodrigues, 'Otto Lara Resende ou Bonitinha mas Ordinária' (...) dá-nos a impressão de que o autor regrediu como dramaturgo, pela volta à forma de suas obras menos felizes, como 'Perdoa-me por Me Traíres' ou 'Os Sete Gatinhos'. (...) Falta ao texto intensidade dramática, a força teatral, aquela qualidade que fez de Nelson Rodrigues um dramaturgo que pode ser discutido em suas ideias ou temas mas que em geral se afirma como um autor teatral autêntico. (...) Muito grave é que Nelson Rodrigues (...) deixe-se agora influenciar pelo cronista, a pior coisa que pode acontecer a um dramaturgo."
Crítica a "Bonitinha mas Ordinária", de Henrique Oscar, no "Diário de Notícias"
1968
"Não encontro, por mais que procure, qualquer razão de ser para se remontar, na época que atravessamos, 'Viúva porém Honesta'. Quando a peça foi criada, há cerca de 15 anos, ela podia a rigor contribuir para afirmar na opinião pública a imagem que Nelson Rodrigues havia então criado a si mesmo: a de um desbravador, de um derrubador de tabus (...). A peça não passa de brincadeira, inconsequente e boba..."
Crítica a "Viúva porém Honesta", de Yan Michalski, no "Jornal do Brasil"
2002
"A originalidade de Nelson está justamente numa realidade dramática impossível de ser contida pela dramaturgia psicológica. (...) Os personagens pertencem a um universo de signos inquietantes de mundos interiores com a fatalidade da desilusão."
Crítica a "Toda Nudez Será Castigada", de Macksen Luiz, no "Jornal do Brasil"
2005
"Nelson Rodrigues subverte os meios narrativos para quebrar com a linearidade e encontrar, na inversão de tempo, o substrato da tensão de um gesto definitivo".
Crítica a "Toda Nudez Será Castigada", de Macksen Luiz, no "Jornal do Brasil"



Diones Camargo não desiste nunca. É um resistente.Contraria diariamente a máxima brasileira de que dramaturgo bom é dramaturgo morto (ou quase). Por vezes quis ser ruim e continuar vivendo, mas tem muito talento pra conseguir fazer isso. Outras vezes, quase morreu, mas como quase todo dramaturgo, algum amigo o salvou na hora H. Para Diones, hoje, só há duas saídas: ou viaja para outro país, onde será venerado, ganhará muito dinheiro, terá os holofotes ao seus pés com tapetes vermelhos e orgias oníricas, ou então continua aqui, no RS, trabalhando como um porco para ganhar a ração do mês e seguir a vida provinciana que o cotidiano obriga a todos nós.

"Nelson Rodrigues era um visionário, louco, pervertido, um verdadeiro inimigo da ordem e dos bons costumes, da manutenção das boas maneiras e práticas sociais, um deturpador da imagem da aristocracia."

Mas muito poucos lembram que é também um ator, e um grande ator! Diones deu o golpe: fingiu quase morrer. Assim poderia ter um pouco da fama em vida, que lhe seria entregue totalmente na posteridade. Enganou médicos, farmacêuticos, cirurgiões; seu caso era quase perdido. Quando já não se sabia mais o que fazer, o sucesso começou a visitá-lo diariamente. Vinha todos os dias, sempre de um jeito diferente, travestido com mil cabelos, jaquetas, livros, quindins, vestidos e sorrisos. A fama se apiedara de Diones, virou sua querida e já estava se tornando sua amiga confidente. Há, quantos pesares... Oh, quantos clamores e segredos... Então o moleque levantou-se do quarto de enfermo, riu da cara de todo mundo e se apoderou de toda a atenção que o tempo lhe permitisse dar, pois quem quase morre, quase vive, e texto bom é de quem está quase lá.







"Até 1935, quando a situação começou a melhorar, os Rodrigues experimentaram a miséria. Em trecho das 'Memórias', Nelson escreve: 'eu e toda minha família conhecemos uma miséria que só tem equivalente nos retirantes de Portinari'. O saldo do período foram as duas tuberculoses de Nelson, que chegou a ser internado, e a morte de Joffre, aos 21 anos, também devido à tuberculose. Joffre era o irmão mais próximo de Nelson, ele dizia que era como se os dois fossem gêmeos."
 


Diones hoje já prepara em segredo sua próxima artimanha. O tempo está passando, o festival também, e todo mundo vai esquecê-lo, como já o esqueceu outras vezes. A fama não o esquecerá, é duro ser enganada, mas ela é amiga de muita gente, e muita gente gosta de tê-la ao lado. Diones não tem muita paciência para ter alguém muito tempo ao lado. Porém, de alguma forma, existe uma sublime e estranha gratidão por tudo, que antes não existia. Esse é o preço de ser tão esperto.  Mas com certeza, ninguém vai esquecer que Diones não é só um bom dramaturgo que não desiste, mas um cara que sabe que a vida dá voltas, e que a fama pode voltar. É só dar a ela o que ela quer, maquinar uns truques ali e aqui, e assim se pode desafiar um pouco mais o destino.



"A grande tragédia do teatro é depender do público. O dramaturgo, no entanto, só realiza sua obra na medida em que se liberta do público. O romancista e o poeta levam, por isso, grande vantagem sobre o autor teatral. Essa, é a minha convicção inabalável." Nelson Rodrigues em entrevista para Folha de São Paulo.


Os Plagiários é a mais nova obra do dramaturgo Diones Camargo, e esteve hoje em seu último dia no Festival. As seções esgotaram. É um trabalho único e um ponto de referência na história da criaçao cênica gaúcha. Além disso, é o último espetáculo produzido integralmente no Centro Cenotécnico do RS, que agora espera lentamente o dia em que será demolido por causa da Copa do Mundo. Reúne quatro grandes companhias de teatro do RS - Santa Estação, Falus e Stercus, Caixa de Elefante e Sarcáustico (as premiadas no Prêmio Braskem 2011) e é um marco onde se deve comemorar a comunhão de idéias, esforços e talentos para a produção de algo exclusivo e memorável dentro da trajetória artística do nosso estado. Talvez o fim de um ciclo de caranguejos... Conta com atores experientes e jovens artistas, e tem a direção de Jezebel de Carli, Guadalupe Casal, Mario de Balenti e Marcelo Restori. Comemora o centenário de Nelson Rodrigues.  É uma iniciativa que deveria ter (e todos que assistiram torcem), ainda, um belo caminho a percorrer.



Ficha técnica:

Direção: Guadalupe Casal, Jezebel De Carli, Mário de Balenti e Marcelo Restori / Texto: Diones Camargo / Coreografia: Larissa Sanguiné / Colaboração cênica: Carolina Garcia / Elenco: Alice Maria Paiva, Ana Luiza Bergmann, Anna Júlia Amaral, Bia Noy, Carla Cassapo, Cris Bocchi, Camila Vergara, Carol Martins, Elison Couto, Filippi Mazutti, Fredericco Restori, Frederico Vittola, Gabriela Greco, Jaime Ratinecas, Lívia Perrone, Manuela Albrecht, Nátali Caterina Karro, Pedro Nambuco, Roberta Alfaya, Raissa PanatieriI, Rafael Becker, Thaiane Estauber, Viviana Schames e Valquiria Cardoso / Figurino: Daniel Lion / Trilha sonora: Arthur De Faria / Preparação de voz: Francis Padilha / Iluminação: Daniel Fetter e Fabricio Simões / Técnico de Som: Zé Derly / Fotos : Regina Peduzzi Prostskof / Produção Executiva: Luana Pasquimell / Realização: Porto Alegre em Cena / Duração: __min / Recomendação Etária: 12 anos
 

JULIA






 






 Julia é um espetáculo carioca que teve orçamento de 400 mil reais em sua produção primorosa e apresenta em sua concepção a possibilidade de compartilhá-lo em cinco tipos de linguagens diferentes, que transgridem suas áreas e mesclam os campos da comunicação, arte, produção e literatura.

Durante quase todos os 70 minutos de cena, estamos expostos a ingressar em cinco meios: o da fotografia gravada, a fotografia ao vivo, a cena teatral, o set de produção e a dramaturgia em si (fora outras possibilidades que podem ser escancaradas).

A fotografia gravada é o cinema propriamente dito. Durante o todo o espetáculo são projetados vídeos com produção de mais alta qualidade. Os atores contracenam dramaturgicamente com os vídeos, os utilizando como sequência de suas cenas. Com ele somos convidados a fugir literalmente do ambiente teatral e mergulharmos em uma sensação que apenas o cinema nos concede. A história é contada por um mediador: a câmera.

A fotografia ao vivo é a filmagem da cena que se desenrola no palco projetada para os telões que integram o cenário. Na medida que as cenas se desenrolam, um câmera-man capta as imagens que são transmitidas simultâneamente para os projetores. O resultado é uma experiência encantadora, pois o público acompanha o olhar do mediador, suas dificuldades e suas escolhas. É lógico que grande parte já é marcado e ensaiado, mas a sensação do prática imediata, do fazer "ao vivo" nos é concedida e inquieta os apaixonados pela arte do cinema.

Como é um espetáculo de teatro, o acontecimento precisa ocorrer, e ele é o fator mais importante da produção. Sem a cena, não há o espetáculo, e quando ela some, o campo do cinema domina o ambiente. E também no campo da cena, somos convidados a assistir diferentes tipos e métodos de construção artística. Por momentos o melodrama se implanta, outros se coloca ações brechtinianas, e a triangulação ora é para o público, ora é para a câmera.

Nas transições de cena, a sensação é que se reproduz um set de filmagem. É o quarto campo oferecido, o da reprodução do ambiente em que se produz audiovisuais, suas locações, cenários, iluminação, a voz do diretor do filme. Mais um presente para os amantes do cinema.

Por fim, temos o plano dramaturgico em si, que várias vezes durante a peça se impõe. Palavras são ditas e uma história trágica é contada.

 Julia tem mais duas apresentações no Em cena, hoje e amanhã, às 20h no Renascença. Vale a pena para todos que gostam de espetáculos com projeção e para o público ávido por experiências e intersecções com recursos tecnológicos.


FICHA TÉCNICA:
Direção: Chistiane Jatahy / Texto: August Strindberg / Adaptação: Christiane Jatahy / Elenco: Julia Bernat, Rodrigo dos Santos e Tatiana Tiburcio (participação especial no filme) / Direção de arte e cenário: Marcelo Lipiani / Iluminação: Renato Machado / Trilha Sonora: Rodrigo Marçal / Figurinos: Angele Fróes / Direção de Fotografia: David Pacheco / Direção de Produção: Claudia Marques / Duração: 70 minutos / Recomendação Etária: 18 anos

SNORKEL











"Snorkel" é destaque entre espetáculos uruguaios que se apresentam no Em Cena Alejandro Persichetti/Divulgação




http://www.teatroelgalpon.org.uy/imgnoticias/1008.jpg

















FICHA TÉCNICA:
Direção: Bernardo Trias / Texto: Federico Guerra / Elenco: Victoria González, Federico Guerra, Sarit Ben Zeev, Bernardo Trias, Ignacio Duarte, Fernardo Amaral, Daniel Cabrera, Daniel Acevedo e Soledad Frugone /  Iluminação: Adrián Romero / Figurinos: Diego Aguirregaray / Duração: 80min / Recomendação Etária: 16 anos


 Somos los derrotados. Somos los que no duermen, no comen y no necesitan abrigo. Somos lo que comiste, digeriste y cagaste. Nos arden las rodillas. Somos nadie y seremos nadie. Odiamos al prójimo como a nosotros mismos. Somos todo lo que proyectás en la pantalla. Nuestra felicidad viene encapsulada. Somos los hundidos bailando en la superficie... y bailamos bien.


Espetáculo do referenciado grupo teatral uruguaio "El Galpón", Snorkel é mais uma das boas atrações do Mercosul nesta primeira semana de Festival.

O submundo, nome que damos ao espaço onde consegue viver aqueles seres humanos mais marginalizados dos costumes e regras sociais, tem sido objeto de estudo frequente da linguagem teatral. Principalmente nas últimas décadas, confirmando o princípio de que o teatro reproduz e resignifa a realidade, com o aumento da criminalidade e diminuição da qualidade de vida, textos que abordam universos de condições extremas de sobrevivência contemporânea tem sido devorados por artistas ávidos por mudanças sociais.

Mas Snorkel não nos oferece, felizmente, nenhum tipo de conclusão moral ou intenção de mudar nosso comportamento. A montegem de Bernardo Trias e Federico Guerra nos fazem, nada mais, nada menos, um apunhaladado das transgressões éticas absurdas que nosso cotidiano nos oferece diariamente. Assim, nos deparamos cênicamente, e com formas de tamanha explicitude e realidade, com ocorrências que ignoramos diariamente, por que nos acostumamos com elas.

Nos acostumamos com o viciado que não tem mais volta, com o policial corrupto, com o marido cruel, com o machismo escancarado. Nos acostumamos com a homofobia, com o desengajamento da juventude, com a morte anunciada.

Snorkel é um retrato da sociedade, recortada e editada para um programa de TV, onde a apresentadora representa a opinião pública e a moral coletiva. Snorkel joga na cara do público o quanto estamos deixando nos influenciar por aquilo que está distante e o quanto estamos nos distanciando daquilo que é verdadeiramente nosso e está no nosso lado.

Snorkel tem mais uma apresentação, nesta sexta, às 23h na Sala Álvaro Moreyra. Boa opção pra quem ainda não tem ingresso para hoje!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

DESVIO

 


 
 


Ficha técnica:
Direção geral e coreográfica: Jussara Miranda / Direção artística: Diego Mac / Direção de cena: Jezebel de Carli / Bailarinos criadores: William Freitas, Denis Gosch, Letícia Paranhos, Rossendo Rodrigues e Didi Pedone / Produção: Marcinhò Zola / Luminotécnica: Mauricio Moura / Trajes: Daniel Lion / Identidade visual: Sandro Ka / Site: Diego Leismann
 
 
 Desvio é um projeto da Muovere cia de Dança, grupo de dança contemporânea de Porto Alegre com 23 anos de história. É um dos espetáculos gaúchos que concorrem ao Prêmio Braskem 2012 - que será entregue no final do Festival Poa em Cena. Seu projeto foi contemplado pelo Fumproarte (Prêmio de Incentivo Cultural da Secretaria Municipal de Porto Alegre). Esteve em cartaz nesta quinta em uma única apresentação.

O que nos faz desviar de nosso caminho habitual? O que nos faz mudar a rota, a forma, o meio? De que modo somos e permitimos ser influenciados em nossas trajetórias pelas ações individuais e sociais que nos contornam? De que forma a criação artística individual pode ser violada com talentos concomitantes?

São questionamentos possíveis de serem vistos na obra criada coletivamente pelos bailarinos Dênis, Letícia, Rossendo e William, estes, por sua vez, dirigidos por Jussara, Diego e Jezebel. Em cena, todos muito parecidos, muito semelhantes. Todos com sua rota demarcada pelas sinalizações urbanas. E de repente, o acontecimento que modifica o curso natural do indivíduo.

Desvio fala da cidade em que moramos, do caminho que fazemos de casa ao trabalho, ao shopping, ao dentista, fala de obediência e subversão, do retilíneo e do sinuoso. De como os seres dividem as trajetórias, uns passando por cima do outro, literalmente. 

Certa vez estava dentro de uma loja agachado, olhando as caractertísticas de um produto que me interessava comprar. Eu estava na rota da mulher que por ali passaria, de uma forma ou outra. Desvio fala de como a mulher passou por cima de mim para seguir o seu caminho.

Embora Desvio pareça ser um espetáculo criado para ser apresentado em qualquer espaço urbano, a iluminação de Maurício Moura  criada para as apresentações no estacionamento do Centro Cultural Lupicínio Rodrigues merece toda a reverência que lhe for dedicada. Ela reforça a idéia das trajetórias, do espaço dos burgos contemporâneos, das luzes inquietantes das postes , fachadas e faróis de automóveis, que parecem dirigir-se contra a platéia e os bailarinos.

 Mais detalhes sobre a Muovere:
www.muovere.com.br




Segundo dia do Festival em Cena

Nesta quarta, o Porto Alegre em Cena teve quatro espetáculos em cartaz. Tive a velocidade de assistir três deles.

http://blogs.varazimteatro.org/wp-content/uploads/2010/09/cao_que-morre.jpg














Interessante como se pode fazer teatro com aquilo que é mais simples. Cão que morre não ladra investe em uma dramaturgia absurda. A impressão é que a peça tenha surgido em um único improviso, tão espontâneo e despretencioso soa o enredo. Sabe-se o tempo todo o que vai acontecer, mas não se sabe como vai acontecer.

Mas um olhar mais instigado poderia ver diversas reflexões sobre o comportamento humano. Me obtive no princípio da negação da realidade, prática tão comum praticada por quase todo o humano; ignorar completamente determinado fato e suas conseqüencias por conveniência e insensibilidade. As personagens fazem isso o tempo todo, por vezes cheios de boas vontades, mas brutamente resistentes à perda de seus pequenos domínios.

A peça tem um cachorro morto em cena o tempo todo, que parece de verdade, com língua e tudo. Este cachorro é o catalisador de uma série de outros eventos tragicamente absurdos que motivam as personagens, cada um em seu ânimo específico. O comportamento e o movimento daquele boneco que imitava o "cão morto" parece ter sido o modelo de energia corporal para os atores - uma longa demonstração de técnica teatral e uso preciso dos elementos.

É a partir também desse cão que encontramos os momentos mais sensíveis da peça. Interessante como o amor aos animais é um tema mobilizador. A simples cadeia de acontecimentos em volta do canino arrancou momentos de extremo saudosismo e cumplicidade com a platéia.

Da atriz Marta Cerqueira, chama a atenção a exímia capacidade de domínio do físico. O movimento de pernas, tornozelos, joelhos da atriz é surpreendente, bem como as articulações superiores. Essa capacidade parece garantir a  execução ímpar de sua performance.

Jorge Cruz e Tiago Vegas assumem muito apropriadamente seus papéis, em um trabalho de caracterzação singular, o que deve-se também a investigação física dos atores. Além disso, sabem muito bem indicar o que interessa na cena: a triangulação é sempre bem executada e o foco para ação principal é claro e sem mistérios.

A companhia do Chapitô nos presenteia neste festival com seu belíssimo "Cão que Morre não Ladra", com mais duas apresentações no Teatro do SESC às 19h.



FICHA TÉCNICA:
Direção: John Mowat / Criação: Coletiva / Elenco: Jorge Cruz, Marta Cerqueira e Tiago Viegas / Assistente de Direção: Katrina Brown / Gravação e Edição Áudio: Tiago Cerqueira / Cenografia: Kevin Plum / Produção: Tânia Melo Rodrigues / Tradução de textos: Carole Garton / Iluminação: Luís Moreira e Paulo Cunha / Duração: 60min / Recomendação Etária: 12 anos
http://zerohora.rbsdirect.com.br/imagesrc/13923623.jpg?w=620























Em breve, relatos de outros espetáculos.





terça-feira, 4 de setembro de 2012

HOJE

Memórias - uma homenagem a Carlinhos Hartlieb



FICHA TÉCNICA
Direção: Rene Goya Filho / Direcão musical: Marcelo Delacroix / Concepção e roteiro: Marcelo Delacroix e Rene Goya Filho / Músicos: Marcelo Delacroix (voz e violão), Vivian Schafer (voz), Mateus Mapa (flauta e voz), Nicola Spolidoro (violão, guitarra e vocais), Beto Chedid (charango, bandolim, harmônica e vocais), Luciano Albo (baixo) e Duda Guedes (percussão e bateria) / Iluminação: Gerry Márquez / Produção Executiva: Andréa Avila – Garota Vinil Produtora / Duração: 90min / Recomendação Etária: Livre