quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Segundo dia do Festival em Cena

Nesta quarta, o Porto Alegre em Cena teve quatro espetáculos em cartaz. Tive a velocidade de assistir três deles.

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Interessante como se pode fazer teatro com aquilo que é mais simples. Cão que morre não ladra investe em uma dramaturgia absurda. A impressão é que a peça tenha surgido em um único improviso, tão espontâneo e despretencioso soa o enredo. Sabe-se o tempo todo o que vai acontecer, mas não se sabe como vai acontecer.

Mas um olhar mais instigado poderia ver diversas reflexões sobre o comportamento humano. Me obtive no princípio da negação da realidade, prática tão comum praticada por quase todo o humano; ignorar completamente determinado fato e suas conseqüencias por conveniência e insensibilidade. As personagens fazem isso o tempo todo, por vezes cheios de boas vontades, mas brutamente resistentes à perda de seus pequenos domínios.

A peça tem um cachorro morto em cena o tempo todo, que parece de verdade, com língua e tudo. Este cachorro é o catalisador de uma série de outros eventos tragicamente absurdos que motivam as personagens, cada um em seu ânimo específico. O comportamento e o movimento daquele boneco que imitava o "cão morto" parece ter sido o modelo de energia corporal para os atores - uma longa demonstração de técnica teatral e uso preciso dos elementos.

É a partir também desse cão que encontramos os momentos mais sensíveis da peça. Interessante como o amor aos animais é um tema mobilizador. A simples cadeia de acontecimentos em volta do canino arrancou momentos de extremo saudosismo e cumplicidade com a platéia.

Da atriz Marta Cerqueira, chama a atenção a exímia capacidade de domínio do físico. O movimento de pernas, tornozelos, joelhos da atriz é surpreendente, bem como as articulações superiores. Essa capacidade parece garantir a  execução ímpar de sua performance.

Jorge Cruz e Tiago Vegas assumem muito apropriadamente seus papéis, em um trabalho de caracterzação singular, o que deve-se também a investigação física dos atores. Além disso, sabem muito bem indicar o que interessa na cena: a triangulação é sempre bem executada e o foco para ação principal é claro e sem mistérios.

A companhia do Chapitô nos presenteia neste festival com seu belíssimo "Cão que Morre não Ladra", com mais duas apresentações no Teatro do SESC às 19h.



FICHA TÉCNICA:
Direção: John Mowat / Criação: Coletiva / Elenco: Jorge Cruz, Marta Cerqueira e Tiago Viegas / Assistente de Direção: Katrina Brown / Gravação e Edição Áudio: Tiago Cerqueira / Cenografia: Kevin Plum / Produção: Tânia Melo Rodrigues / Tradução de textos: Carole Garton / Iluminação: Luís Moreira e Paulo Cunha / Duração: 60min / Recomendação Etária: 12 anos
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Em breve, relatos de outros espetáculos.





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